ALERP
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18/05/2020 17:52:42 | Por: Deolinda Maria de Sousa Marques | Visitas: 407
Imagem: Divulgação
Recebi com grande tristeza a notícia do falecimento da escritora Olga Savary (86 anos), ocorrido no último dia 15 de maio, em Teresópolis – RJ, vítima da covid -19. Lamentei a sua morte não apenas por ser uma escritora famosa nem tão pouco por ser mais uma vítima do coronavírus. Mas pela grande perda que foi para as Letras do nosso país e, sobretudo, pelo diálogo e amizade que mantínhamos mesmo distantes.
Olga Savary, escritora, poeta (como gostava de ser chamada), contista, romancista, crítica, ensaísta, tradutora e jornalista, foi casada com Jaguar, com quem teve dois filhos, publicou vários livros e recebeu diversos prêmios. Paraense de nascimento, teve passagem de sua vida em Fortaleza, passando a residir definitivamente no Rio de Janeiro, onde produziu quase totalidade de sua obra.
Tomei conhecimento da existência de Olga Savary e sua produção literária através do poeta e amigo Chico Miguel e, por reiterados recados (P.S. Ah, e não esquecendo de notar o belo ensaio sobre sua obra, de autoria de Deolinda Marques. Gostaria de ter o endereço de Deolinda, endereço postal (não tenho e-mail), com CEP e tudo para mandar-lhe livro. O. S.), iniciamos um diálogo à distância. Mandei-lhe algumas cartas, poemas, bem como passei a receber notícias sobre seu trabalho através de folders, recortes de jornais, cartas, entrevistas e artigos. Recebi também o seu livro Berço Esplêndido (com um belíssimo autógrafo), que guardo como relíquia.
Só hoje percebo quão significativo foi esse contato, o privilégio de ter recebido essa carta, de maneira especial pela importância e riqueza do seu conteúdo. Vale a pena conferir:
Rio de Janeiro, 24/12/2011
Deolinda querida,
desejando-te Boas Festas, Feliz Natal e o melhor 2012, digo que fiquei feliz com tua carta carinhosa e teus poemas. Sempre bom ganhar novas amizades, desta vez por nosso querido poeta Francisco Miguel, do Piauí.
Amei o Piauí (Teresina) quando aí estive em 2004, convidada por Cineas Santos, p/ um congresso de literatura, tudo pago mais bom cachê. Não sendo assim, não posso ir, pois direitos de autor são escassos, não dão para fazer viagens, etc. Só viajo quando paga: profissionalmente.
Envio-te meu livro de 2001, o penúltimo, premiado como “Prêmio Internacional Brasil – América Hispânica de Poesia 2007”. Bancada por meus editores (nunca paguei livros, como a maioria dos poetas), esgotei a quantidade mínima que eles me dão, os editores. Assim, tive de comprar este exemplar na livraria do Rio, uma vez que já se encontra esgotada a edição. Foi sorte, e então te envio. Com um Brasil continental, os livros ficam mais pelo Rio, SP e uns poucos estados, talvez por isto não cheguem ao Piauí. Vendi muitos livros no congresso de Literatura, em Teresina. Era p/ falar e ler poemas por 20 minutos, acabei falando por mais de 3 horas. Foi comovente.
Anexo algo mais sobre meu trabalho, pois podes querer escrever algo sobre Berço. Se escreveres, tenho onde publicar. Digitação em duas a cinco laudas, do tamanho que quiseres, se quiseres.
Dados importantes: fui pioneira em várias coisas. Pioneira, no início, chamaram minha poesia de ecológica, quando mal engatinhava a palavra ainda nem bem formulada – ecologia. Fui pioneira em escrever haikai (ou haicai), menina ainda, no início da década de 1940, publicando em jornais e revistas, – depois em livros. Imagina! Era considerada excêntrica e até meio louca por escrever poesia de origem japonesa. Até hoje muita gente boa não sabe o que é haikai, em 1940, 1943, então... Pioneira também em publicar poesia erótica em 1960 em jornais e revistas e suplementos literários, posteriormente em livro todo de poemas eróticos em 1982, MAGMA, 1º livro todo de poesia erótica escrito por mulher no Brasil (antes de mim, Gilka Machado, mas não um livro inteiro nesse tema). E Drummond só publicou o dele muitos anos depois. Tive, portanto, esta ousadia, o pioneiro. E que eu saiba é pelo que diz crítica e imprensa sou o único poeta – entre mulheres e homens – a utilizar poemas com títulos e palavras em Tupi, o Nheengatu, a língua boa dos nossos indígenas, sempre, em poesia, em ficção e no que escrevo em crítica e ensaio, na vida toda.
Querida, tudo de melhor para você. Sua Olga Savary
Se viva ainda fosse, Olga Savary completaria, no dia 21 deste mês, 87 anos. Ela partiu, mas sua obra ficará para sempre, posto que é imortal.
Descanse em paz, querida Olga.
Bocaina – PI, 18 de maio de 2020.
Deolinda Marques
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