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A 1º de outubro de 1912, na Fazenda Bom Princípio, distrito de Papagaio, nasceu José dos Santos Fonseca, sendo seus genitores Miguel dos Santos Fonseca e Maria Francisca dos Santos.
Aos 10 anos, recebia instruções escolares do professor Mundiquinho, em sua própria residência. Para concluir o primário, teve de se deslocar a uma distância de 5 léguas até o povoado Papagaio (hoje Francinópolis). Sofreu muito fazendo esse trajeto a cavalo, juntamente com seus irmãos.
Até 1930, só conhecia a lida da roça e dos animais. O convívio com as pessoas se restringia aos familiares, isto porque seu pai não permitia que pessoas de outras famílias fixassem residência na área de sua fazenda.
Em 1931, o Sr. Miguel transfere-se para Oeiras, matriculando o menino Fonseca na escola particular do professor Severino da Costa Andrade. Em 1932, devido á maior seca do século passado, resolve enfrentar a vida como caminhoneiro, fixando residência na cidade de Floriano. Passou a estudar no turno noturno do Colégio Rui Barbosa, dirigido pelo Padre Moisés. Em 1933, em Teresina, para onde viajara com uma turma de colegas, obteve boa classificação no Exame de Admissão ao Ginásio. Assim, passa a residir na Capital, onde concluiu o curso ginasial e prestou serviço militar no 25º BC. Tendo sido promovido para 3º sargento, foi transferido para o 24º BC, em São Luís do Maranhão, onde fez o pré-médico por dois anos.
A carreira militar lhe fascinava, mas profissionalizante, desejava ser médico. Não obtendo transferência, pediu baixa do Exército e foi submeter-se ao vestibular em Belém do Pará. Apesar das dificuldades financeiras, conseguiu concluir o 1º ano de Medicina, mas, como os livros eram todos de difícil acesso, por serem escritos em francês e de alto custo, resolve mudar para o curso de odontologia, que era menos dispendioso e com menor carga horária (4 anos).
Em 1943, após receber o grau de odontólogo, foi convocado para o Exército como aspirante, pois com a expansão da II Guerra Mundial, o Brasil foi obrigado a fazer parte da Força Expedicionária, com rota para a Itália. Dr. Fonseca, fez diversas manobras para não ingressar na tropa que iria para a guerra, conseguindo ficar em Porto Velho – Rondônia. Em 1944, como integrante da 8ª Região Militar, Dr. Fonseca, já com a patente de 1º tenente, exercia a difícil missão de “fiscal de fronteira”, vigiando periodicamente a fronteira do Guaporé com a Bolívia, aproveitando sempre o avião dos Correios (C-47) para subir o rio. Como travessia mais perigosa e exaustiva, Dr. Fonseca descrevia o decurso de descida do rio Guaporé, que era feito num bote de borracha inflado.
Terminada a II Guerra Mundial, em 1945, retorna ao 25º BC em Teresina. Em 1946, licenciado do Exército e retornando às atividades profissionais de dentista, transfere-se para Picos. Assumiu a direção do Tiro de Guerra 201 até 1968, quando os tiros de guerra passaram para as prefeituras. Sua missão junto aos recrutas do Exército foi das mais memoráveis para Picos. Dr. Fonseca instalou seu consultório odontológico na casa do Sr. Laudemiro Morais (Seu Mirô), mas em pouco tempo mudou-se para a casa do Coronel Francisco Santos, local onde funcionou o antigo Cine Spark.
A 07 de junho de 1949, desposara a senhorita Maria Carmem Reinaldo Gervásio, uma jovem bonita, educada, dotada de várias virtudes e descendentes de italianos. Em 1951, por 25 contos de réis, consegue comprar o “pardieiro” pertencente a D. Mariquinha, viúva do italiano Jacomi Stopelli. Fez algumas restaurações, mas sem descaracterizá-lo totalmente, conservando as enormes paredes, o piso de madeira, o porão e a fachada do prédio com os frisos italianos.
Dr. Fonseca foi um conservador no que concerne aos hábitos e tradições culturais. Com o fim de homenagear os ancestrais de sua esposa, batizara todos os filhos com prenomes e sobrenomes italianos: Graziani Gerbasi Fonseca (sociólogo, escritor e professor da UFPI), José Garibaldi Gerbasi Fonseca (exator fiscal do Estado de Tocantins), Carmem Maristani Gerbasi Fonseca Alves (cirurgia dentista), Giovani Gerbasi Fonseca (funcionário da UFPI) e Marconi Gerbasi Fonseca (protético dentário e filosofo da UNICAP).
Em Picos, destacou-se pela grandeza de caráter e versatilidade. Entre suas muitas atividades, destacam-se movimento pró-fundação de um ginásio em Picos, o qual passou a funcionar em 1950, denominado Ginásio Municipal Picoense; foi sócio-fundador da Associação Civil Picoense Clube, dando impulso ao movimento de lazer e convívio social de Picos; tendo adquirido a disciplina que é peculiar ao Exército, nunca, nunca relaxou nos seus compromissos; dentista exemplar; professor dedicado de geografia, história, educação moral e cívica e educação física. Aos 81 anos, o Dr. Fonseca ainda mantinha sua inteligência aguçada e seus gestos e expressões mais sublimados pela espiritualidade que possuía.
A missão de Dr. Fonseca tem prosseguimento através de sua filha Maristani, odontóloga competente, e de seu filho caçula Marconi, assistente de serviços de prótese no consultório que era seu pequeno mundo. Mesmo depois de aposentado, continuou realizando serviços de prótese dentária para atender a clientela de sua filha e prestando serviços auxiliares, quando solicitado. “Aposentadoria é apenas uma licença para algumas atividades, e não um alvará para cultivar o ócio”, dizia Dr. Fonseca.
No dia 05 de julho de 2001, partiu para a eternidade o doutor José dos Santos Fonseca. Como bom educador que foi, o Tiradentes de Picos silenciou mas não calou, vez que sua história e a força de seu exemplo continuam a ecoar fortemente neste meio social.
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