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Fontes Ibiapina é o nome literário de João Nonon de Moura Fontes Ibiapina. Nascido em Picos (lugar Vaca Morta), a 14 de junho de 1921, filho de Pedro de Moura Ibiapina e D. Raimunda Fontes de Moura, fez o primário em sua terra natal e o secundário em Teresina, aonde veio a bacharelar-se em Direito (turma de 1954). Ainda como estudante, dedicou-se por algum tempo ao jornalismo. Findo o curso superior, logo entra para a magistratura, sendo juiz de direito em várias comarcas do Piauí.
Quando faleceu, aos 10 de abril de 1986, era juiz em Parnaíba-PI. De lá, seu corpo foi transferido para a Capital e sepultado, no dia seguinte, no Cemitério São Judas Tadeu. A família prestou-lhe homenagem depois de sua morte, criando a Fundação Fontes Ibiapina.
Foi o primeiro presidente e um dos fundadores da Academia Parnaibana de Letras, fundada em 28 de julho de 1983. Membro da Academia Piauiense de Letras, foi o 3° ocupante da cadeira nº 9, patroneada por Alcides Freitas, teve como seu antecessor o folclorista e magistrado Pedro Borges da Silva. A cadeira nº 9, com a morte de Fontes Ibiapina, seria preenchida pelo ex-Governador Hugo Napoleão do Rego Neto. Também durante algum tempo, foi chamado a participar do Conselho Estadual de Cultura. Foi professor e diretor do Colégio Rural e Artesanal Pio XII, membro da Associação Profissional dos Jornalistas do Piauí e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Mas, sua maior glória está na literatura que fez, publicou, ou deixou inédita; nos artigos que escreveu na imprensa do Piauí; nas aulas que deu nos colégios, pois sabemos que também exerceu o magistério.
É valioso o patrimônio que amealhou, registrou, difundiu, do nosso folclore e dos nossos costumes, especialmente os mais antigos. Deixou publicadas as seguintes obras “Chão de Meu Deus”, 1958; 2ª edição, 1965; “Brocotós”, 1961; “Pedra Bruta”, 1964, “Congresso de Duendes”, 1969; “Destinos de Contratempos”, 1974; “Quero, Posso e Mando”, 1976; “Mentiras Grossas do Zé Rotinho”, 1977 e “Lorotas e Pabulagens de Zé Rotinho” (conjunto de crônicas premiadas pelo Mobral), sem data de publicação; exceto a última obra, todas acima são do gênero conto, ao qual mais se dedicou, merecendo o maior destaque dos antologistas e estudiosos.
No gênero romance, publicou: “Sambaíba”, 1963; “Palha de Arroz”, 1968; 2ª edição, 1975; “Tombador”, 1971; “Nas Terras do Arabutã”, 1984 e “Curral de Assombrações”, 1985; no folclore lançou dois trabalhos de suma importância: “Paremiologia Nordestina” e “Passarela de Marmotas”, ambos de 1975. Para o teatro, escreveu e publicou “O Casório da Pafunsa”, 1982, peças várias vezes encenada nas terras piauienses. Deixou no prelo o romance “Vida Gemida em Samambaia” e a coletânea de contos “Eleições de Sempre e Até Quando”, que sairiam com a data de 1985. provavelmente ele não chegou a vê-los em letra de forma porque foram publicados por editoras do sul: Clube do Livro, S. Paulo, resultado do VII Concurso Nacional do Clube do Livro (1º prêmio) e Editora Soma Ltda, também de São Paulo, respectivamente.
Segundo deixou escrito numa das folhas iniciais de “Curral de Assombrações”, além das duas obras citadas por último, deixou inéditos: “Pecado é o que Cai do Cacho”, romance; “Amor Roxo”, “Mentiras de Verdades”, “Onde a Velha Mediu de Cócoras”, “Onde o Filho Chora e a Mãe Não Houve” e “Nas Capembas Rajadas”, todos estes de contos; no folclore: “Gente da Gente”, “Desfile de Malucos”, “Mentiras ou não, o Povo Conta”, “Crendices e Supertições do Piauí”, “Terreiro de Fazenda”, “Ponta de Terreiro” e “Almas Penadas”. Anunciava também “Augusto dos Anjos” (ensaio) e “Brasileirismos no Piauí” (Dicionário).
A crítica nem sempre foi honesta com Fontes Ibiapina. Eu diria até que foi ingrata. Com obra tão volumosa e importante, ele não teve, em vida, sequer um artigo meu. São as ingratidões involuntárias. Por que um livro completo de análise da obra de O. G. Rego de Carvalho e somente o silêncio em torno dele?
Realmente fui omisso, mas não completamente. Sem que ele soubesse, a pedido de Assis Brasil que preparava o “Dicionário Prático da Literatura Brasileira” para as Edições de Ouro, Rio, 1979, escrevi uma resenha crítica da qual o dicionarista selecionou o seguinte trecho: “Nos últimos anos tem sobressaído mais o seu trabalho de pesquisa que a ficção. Mas ele (Fontes Ibiapina) trouxe uma importante contribuição à literatura do Nordeste, guiando os passos dos novos para a pesquisa da linguagem falada e sua transposição honesta e desabusada para as páginas dos romances e contos”.
Depois de sua morte, saíram dois opúsculos divulgando contos de Fontes Ibiapina: “Trinta e Dois e Tangerinos”, 1988, edições Corisco/Projeto Petrônio Portela; e “Dr. Pierre Chanfubois”, sem data de publicação, edição conjunta Corisco/APL/PPP, Teresina.
Parte do Texto do escritor Francisco Miguel de Moura que é membro da Academia Piauiense de Letras.
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