ALERP
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Poeta Vilebaldo Nogueira Rocha,
Prezados Acadêmicos,
Familiares,
Autoridades,
Amigos,
Senhoras e Senhores,
Boa noite.
QUIS DEUS que eu pudesse estar aqui nesta Casa onde se cultua a imortalidade para cumprir o meu ofício de gratidão e renovar a minha profissão de amor à literatura.
O poeta e dramaturgo, considerado um dos maiores escritores da literatura mundial, Miguel de Cervantes, em meio à engenhosidade da sua obra, afirmou que “a gratidão é o sentimento que mais aproxima o homem de Deus”.
Gratidão eu tenho pelas senhoras e pelos senhores membros desta Augusta Casa, que permitiram por meio do seu voto, ocorrido no dia 06 de abril do corrente ano, que eu pudesse ser eleito e ocupar a Cadeira de nº 01 da Academia de Letras da Região de Picos, Cadeira que tem como patrono o senhor Severo Maria Eulálio e a professora e poetisa Rosa de Lima Araújo Luz como a primeira ocupante.
Na implacável verdade da fuga do tempo não busco a infinidade inexorável, como bem disse a escritora francesa Simone de Beauvoir com a expressão “todos os homens são mortais”, mas busco, por meio dos meus escritos e por meio dos registros da minha existência, elencar os elementos insubstituíveis da tessitura de minha memória e preencher, via literatura, o vazio da alma humana e proclamar pelos sinais das palavras escritas o culto permanente.
Neste ato solene, parafraseando Fernando Henrique Cardoso, imortal da Academia Brasileira de Letras, junto o meu nome aos fundadores desta Casa e a todos os que foram chamados, não à imortalidade – já que na glória, como bem manifestou Vinícius de Morais sobre o amor, não pode ser imortal, posto que seja chama, mas pode ser infinita enquanto durar – mas à responsabilidade de manter viva a chama dos valores fundamentais da cultura. A ALERP existe e funciona para manter viva a história e a memória, onde os confrades, ao passar o manto uns a outros, se encarregam de dar continuidade ao respeito à cultura; à tarefa de manter-se vivo o culto incessante à atividade literária, à língua que a expressa; à infinidade contínua dos sinais que cultivam a força das palavras, em especial as palavras escritas; à liberdade de criação; à capacidade de reconhecer a clareza das ideias e o brilhantismo da dignidade humana; aos valores que servem para nós, mortais, permanecermos imortais e ao respeito na construção da história.
Senhor presidente, acadêmicos, senhoras e senhores,
Dando sequência à reunião das ações, como é de maneira habitual, vou falar, em breves notas biográficas, da memória do senhor Severo Maria Eulálio. Mas primeiro recorro à chama acesa da intelectualidade impressa nos belíssimos apontamentos concretos, escritos pelas mãos do historiador e professor José Albano de Macedo, conhecido popularmente como “Ozildo Albano”, os quais reúnem as informações pertinentes ao patrono da Cadeira nº 01 desta importante Casa das Letras.
Severo Maria Eulálio nasceu em Picos, Piauí, no dia 17 de janeiro de 1930. Era o mais novo dos dez filhos do Dr. Urbano Maria Eulálio e de D. Eliza Rosa Clementino dos Santos Eulálio. Em 1948, iniciou o curso superior na Faculdade de Direito do Piauí, que concluiu no ano de 1952, integrando a turma “Centenária de Teresina”.
Antes de ingressar na política partidária, Severo Eulálio assumiu diversas funções: foi secretário em colégios de Teresina; diretor do Departamento da Despesa e Secretário da Prefeitura Municipal de Teresina; professor de Português e História na cidade de Picos e, ainda, delegado do Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado – IPASE.
Em 1958, ingressou na política partidária, candidatando-se a deputado estadual. Convocado na qualidade de suplente da bancada, exerceu na Assembleia Legislativa a liderança de seu partido, de 1960 a 1962. No pleito seguinte foi eleito deputado estadual para o quatriênio de 1963 a 1966, sendo líder da bancada em todo o período. Em 1966, foi novamente eleito deputado estadual.
No ano de 1970 foi eleito deputado federal para o mandato de quatro anos, de 1971 a 1974, destacando-se como um dos mais atuantes parlamentares piauienses. Em 15 de novembro de 1976, Severo Maria Eulálio foi eleito Prefeito Municipal de Picos, sua terra natal. Em pleno mandato de prefeito, veio a falecer, em desastre automobilístico, no dia 24 de novembro de 1979. Severo Maria Eulálio, no campo da política, foi um dos piauienses que mais batalharam em defesa das causas do Estado do Piauí.
Posso afiançar que o peso da história de um homem é pautado pelo caminho percorrido na sua vivência, pela sua importância dentre os seus pares e as contribuições realizadas perante a sociedade. Pelas ações solidificadas, o patrono da Cadeira nº 01 cumpriu com maestria a sua missão no plano terreno e deixou o seu nome gravado na eternidade.
Agora passo a referir-me à memória de Rosa de Lima Araújo Luz, que foi uma das fundadoras desta Casa de conhecimento, de cultura e saber, a primeira presidente desta egrégia instituição e a primeira ocupante da Cadeira de nº 01, Cadeira em que tenho a imensa responsabilidade de sucedê-la.
Garimpando informações em livros e páginas virtuais confiáveis acerca da história contada, encontramos disponibilizado no portal da ALERP o raconto apropriado. A saudosa professora e poetisa Rosa de Lima Araújo Luz nasceu no dia 7 de janeiro de 1947, na localidade Baixio de Ipueiras, filha de Joaquim Martinho da Luz e Vicença Araújo Luz.
Em 1977, iniciou o curso superior de Licenciatura em Letras na Universidade Federal do Piauí - UFPI, na capital do Estado do Piauí, Teresina, vindo a concluí-lo no ano de 1979.
Profissionalmente, a professora Rosa Luz lecionou a disciplina de Português em diversos colégios do município de Picos. Exerceu os cargos de Coordenadora de Comunicação e Expressão e Diretora na Escola Técnica Estadual “Petrônio Portela” - PREMEN, no período de 1986 a 1988 e de 1989 a 1991, respectivamente.
Em 1995, foi eleita, por unanimidade, para ser a 1ª mulher a comandar um time de futebol profissional no Piauí, a Sociedade Esportiva de Picos – SEP. Rosa Luz sempre esteve ligada à sociedade picoense através de seus feitos e atuações na Associação de Professores do Estado do Piauí (APEP), no Centro de Estudos e Recreação do Magistério e na Associação Recreativa dos Professores (ARPEP).
A professora Rosa Luz também foi sócia-fundadora do Clube Cultural “Fontes Ibiapina”, presidindo a entidade por duas gestões, sendo a primeira por aclamação e a segunda por eleição, sempre se dedicando à causa da cultura.
Não conheci pessoalmente a professora e poetisa Rosa de Lima Araújo Luz. Assim quiseram os deuses. Mas muito já tinha ouvido falar no nome da professora. No entanto, a presença marcante da poetisa na minha memória se remete à data de 23 de julho de 2014, quando recebi de presente das mãos de Rosemery, uma afilhada de Rosa, uma garrafa de licor que possui no rótulo o sugestivo nome de “Rosa Licores” e um livro de poemas autografado, intitulado Paisagens poéticas: retratos e poesias, de autoria de Rosa de Lima Araújo Luz e Francisco Valentim Neto, que também é membro desta Casa.
Foi desse dia, 23 de julho de 2014, data gravada no autógrafo do livro, que comecei a descobrir os dons da culinária, a sensibilidade da poetisa com as palavras e o amor pelas paisagens da natureza capturadas pelos ângulos das fotografias. De imediato, logo ao receber o kit de presente, comecei a degustar o licor e a deleitar-me sobre os poemas.
Ortografando essa exposição de palavras, precisamente neste ponto do discurso, recorri à garrafa de licor na adega que ainda está pela metade, peguei o livro de poemas de que a poetisa é coautora e comecei a saboreá-los. Um dos poemas gravados entre as páginas da obra tem o título de Rosa-Luz e narra o seguinte:
Rosa, flor de intensa luz,
A despertar brilho e fulgor.
Resistente à aridez e ao calor,
Mesmo na obscuridade reluz.
Flor que apascenta a dor,
Também adorna a cruz.
Liberta e, às vezes, seduz.
Pétalas, símbolo do candor.
Rosa que adorna o jardim,
Na pureza da moça-menina,
Em seu matiz rouge-carmim.
Flor de plena altivez,
Reflexo da gota cristalina,
Luz a irradiar lucidez.
No dia 9 de novembro de 2017, aos 70 anos de idade, a poetisa, professora aposentada e acadêmica Rosa de Lima Araújo Luz empreendeu a grande viagem, mas deixou o seu nome escrito no livro da história. É uma imortal da ALERP. A sua presença sempre estará presente entre nós.
Senhoras acadêmicas, senhores acadêmicos,
Durante o tempo em que transcorreu o período da eleição, aguardei ansiosamente o resultado do pleito e, logo recepcionando o resultado a mim favorável, radiante, dirigi-me a esta digna Casa, e das mãos do presidente da ALERP, o poeta Vilebaldo Nogueira Rocha, recebi o ofício de nº 01/2018 confirmando o meu nome, pelo quadro acadêmico, para integrar os quadros desta augusta Casa de cultura, na condição de titular da Cadeira de nº 01.
Com a mesma emoção que passo a ser um membro efetivo e perpétuo desta insigne instituição picoense, para a qual a generosidade das senhoras e dos senhores me elegeu, eu reitero os meus protestos de elevada estima e os meus agradecimentos.
Como bem cita o livro Eclesiastes, no capítulo 3, impresso na Sagrada Escritura, “para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou”.
Chego à Academia de Letras da Região de Picos trazido pelo instinto da arte; chego credenciado a esta instituição pela imaginação lapidada e impressa em minhas obras. No trecho da crônica Nobre missão grafada entre as páginas do livro Liberdade clandestina, de minha autoria, afirmo que “a necessidade de imprimir a marca no mundo da existência faz o poeta, o cronista, o contista, o romancista, o historiador, dentre tantos outros gêneros, recorrerem às ‘penas do ofício’ e projetarem a construção da caminhada conforme a sua necessidade. A temática de cada texto surge no percurso obedecendo ao estado de espírito do letrista. As palavras lançadas na comunicação com o mundo da vivência servem para ensinar, informar e como terapia para as agruras. Os vocábulos são usados na sombra da ficção de mentira para encapar as lembranças da memória. Umas usadas à luz da verdade, outras usadas no ludíbrio da escuridão. Nos dois lados da moeda, quando, em um, a nobre missão transforma os ditos em palavras revolucionárias, o outro faz renascer a liberdade nos termos da própria palavra”.
Ingresso nesta Casa com o dever de cultuar a memória dos fundadores e seus sucessores; somar com os demais acadêmicos e trabalhar com afinco pelo fortalecimento da entidade; contribuir de forma plena pelo engrandecimento da cultura picoense, piauiense, brasileira; ajudar a construir uma sociedade melhor, incentivando, recomendando, estimulando, colaborando e oferecendo meios para o aperfeiçoamento da capacidade intelectual e moral por meio da literatura; manter a essência, socializar e fazer valer o papel de acadêmico; ser um soldado de habilidade mútua em prol da cultura e usar como arma as palavras para levar o conhecimento e promover a conscientização dos cidadãos.
Tomo posse nesta Academia de Letras, que é a maior instituição cultural do município Picos e região, com o dever de ser um combatente enérgico em prol da informação permanente, e firmo o compromisso de ser atuante, ativo, eficaz e atento a todos os movimentos culturais, de colaborar com o meu melhor diante das matérias literárias envolvendo a academia e os acadêmicos, levando ideias e projetos para serem discutidos com os demais membros da fundação, assim como de elevar a sua importância e fazer a arte ser difundida de maneira perfeita e absoluta pelos rincões do município de Picos e macrorregião.
Junto-me para fazer parte do Centro de Conhecimento, de Saber, de Cultura e de Estudos e preservar o compromisso da instituição com a sociedade, manter as tradições, a história, a memória, o acervo, enfim, o registro do nosso povo, da nossa cultura.
A cultura desencarcera. Sem conhecimento não seremos um povo liberto; sem a informação dos nossos direitos não poderemos viver plenamente. A educação é tudo. E, por falar em educação, o pensador norte-americano John Dewey afirma que “a educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”. E por ser um processo sociável a nossa obrigação é aprimorar, lapidar e fazer significar a propagação dos trabalhos artísticos em pintura, prosa ou verso.
Aqui alicerço mais uma vez a minha missão com os demais membros desta Casa, com a sociedade de Picos e região, em manter viva, pulsante e efervescente a cultura; em zelar pela Casa que é a guardiã primeira da literatura, história, memória e folclore; salvaguardar a língua, que, como bem disse Caetano Veloso, é a nossa pátria; em ser um militante, ágil e aguerrido diante da instituição.
Minhas amigas e meus amigos,
O rito chega à parte final das últimas orações: aposição do manto, assinatura do termo e, completado o pronunciamento de posse, o meu retrato emoldurado passa a despontar na galeria dos membros desta Academia, no lugar da fotografia da imortal, primeira presidente desta Casa, que passa para a galeria eterna transcendente.
Termino com uma imensa gratidão a todos os que contribuíram com a minha chegada a esta Casa. Pegando emprestados os termos do escritor Gabriel Chalita, por parecerem meus, “agradeço a Deus pelos talentos que abundantemente Ele derrama sobre nós; agradeço a Ele os milagres cotidianos, singelos, que às vezes nem temos tempo de reparar. E, ainda, o dom da cortesia. Agradeço aos meus amigos que aqui e em outras arenas emprestam conhecimento e poesia a minha vida”.
Com a janela da imaginação aberta, com o coração em explosão radiante, a alma mergulhada em poesia, mais uma vez, agradeço a ilustre presença de todos.
Muito obrigado.
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