ALERP
ALERP
João Hipólito de Sousa Ferreira nasceu no dia 16/05/1880, na casa de seu avô paterno, o Alferes João Batista de Sousa, na antiga fazenda “Lagoa do Rato” atual cidade de Fronteiras-PI.
Filho primogênito do abastado fazendeiro, agricultor , homem de negócios e primeiro comerciante do Povoado Riachão , Tenente Coronel, Carlos Hipólito Pereira e de sua esposa, D. Isabel Maria da Conceição. Foi batizado na Fazenda “Riachão”, hoje cidade de Monsenhor Hipólito, pelo Cônego Claro Mendes de Carvalho.
Foi lá, na tranqüilidade da fazenda de seu pai, que João Hipólito passou a infância e a partir da educação religiosa doméstica, recebeu os primeiros ensinamentos ministrados pelo professor Juvenal, autor dos célebres, “Os cincos Sonhos de Juvenal”. De família profunda e tradicionalmente cristã, ainda menino, João Hipólito sentiu-se atraído pelo sacerdócio, aos 12 anos ingressou no Seminário do Crato (CE), onde cursou Humanidades, concluindo no seminário de Fortaleza, depois, fez os estudos superiores de Filosofia e Teologia, no Seminário do Maranhão.
Foi ordenado sacerdote à 24 de junho de 1907, na Catedral de Teresina, pelas mãos do primeiro bispo do Piauí D. Joaquim Antonio de Almeida. Em janeiro de 1908 assumia a paróquia de Castelo do Piauí, onde reformou a Capela de Nossa Senhora do Desterro, na época Marvão, e edificou a capela de São José da Serra. Em 19 de novembro de 1910, padre Hipólito assumiu a paróquia de Picos, como vigário, onde permaneceu sob o olhar da Virgem dos Remédios, até 1943.
Durante seu longo paroquiato em Picos (27 anos) o padre João, como também era conhecido, soube constituir-se pela personalidade sacerdotal e humana, o verdadeiro pastor do rebanho que lhe fora confiado. Era respeitado e amado por todos os seus paroquianos. A Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios teve em Monsenhor Hipólito um dos mais eficientes vigários, soube seguir os ensinamentos do Mestre, evangelizando com palavras e atitudes. Seu testemunho de uma vida sacerdotal pura, edificava os paroquianos que nele viam sempre o pastor vigilante. Nos momentos mais difíceis não abandonou o seu rebanho, socorreu seus queridos paroquianos durante a terrível epidemia que atacou Picos, a destruidora “gripe espanhola” de 1918, padre Hipólito era visto, ora a pé, ora a cavalo, de dia e de noite, na cidade e no interior, levando o sagrado viático aos enfermos, prestando-lhes conforto espiritual e material. Também quando em 1926, a cidade e o município, foram invadidos três vezes pela coluna PRESTES e pelas forças legalistas, Monsenhor Hipólito defendeu a cidade com firmeza contra as ameaças dos revoltosos, enquanto as autoridades e as pessoas ricas, fugiram para suas fazendas, ficando somente os pobres e o irredutível vigário para lhes defender.
Reativou as Associações Religiosas, Apostolados da Oração, Conferências Vicentinas e obra das Vocações Sacerdotais, ao lado do seu zeloso e venerado sacristão, o velho João Leopoldo. Embelezou a igreja de Nossa Senhora dos Remédios. As festas religiosas no tempo de Monsenhor Hipólito, eram religiosamente celebradas, os festejos do mês de maio e junho, as festas da padroeira e do Divino, marcaram época. Incentivou o professor Miguel Lidiano na fundação do colégio Felisberto de Carvalho, colégio este responsável pela educação de uma geração de picoenses. De refinado gosto artístico, fundou a Filarmônica “Primavera”, colaborou no jornal “O Aviso” de Picos e no “Apostolo”, de Teresina. Esteve em Roma em 1929, sendo recebido e audiência pelo Papa Pio XI. Foi agraciado pela santa Sé, com títulos de Cônego (1921) e Monsenhor (1929).
Foi cônego honorário da Catedral de Teresina e camareiro secreto do Papa secreto Pio XI.
Monsenhor Hipólito era um homem de recolhimento e oração, grande orador sacro, inteligência viva e dicção perfeita. Era muito amigo da família Lopes e nas horas de fadiga, ia descansar, na Vila Petrona, perto de Ipiranga, onde havia uma capelinha humilde, a que ele chamava de “meu Vaticano”.
Em 1943, já estava diabético. Por ocasião da Semana Santa, o Cônego Antonio Cardoso, vigário de Oeiras, convidou-o para pregar o sermão da Ressurreição. De volta a Picos, seu automóvel quebrou e ele teve que andar 1Km a pé, para pedir socorro em uma fazenda próxima, dessa caminhada, criou um calo no pé direito, que jamais sarou.
Em 1937 depois de vinte e sete anos de labório no ministério, combalido pela doença, não lhe restando mais forças físicas para trabalhar na vinha do Senhor, Monsenhor Hipólito renunciou à sua querida Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios. Os seis anos que lhe sobrevieram, com saúde desgastada, passou-os, ora em picos, ora em Teresina. E foi em Picos que a doença que o vitimava , prostou-o em maio de 1943.
Tendo que viajar a Teresina, em busca de melhoras, teve uma carinhosa e comovente despedida por parte de seus paroquianos. Em Teresina, foi atendido pelo melhor especialista, o Dr. Rocha Furtado. Tudo em vão. Ainda em Valença, dez dias antes de sua morte e durante a viagem fez o seu testamento incluindo sua casa em Picos e um grande terreno ao lado, para ali ser instalado um colégio de freiras, o que foi uma semente que caiu em terreno fértil. Após sua morte, seu sobrinho querido, Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório, inaugurou o Instituto Monsenhor Hipólito, sob a orientação das Filhas do Coração de Maria, que 60 anos, vem prestando valiosíssimo serviço a comunidade, instruindo, educando e principalmente preparando os jovens para a vida.
Mas o tempo sobra da vida. Foi com 63 anos de idade e 36 de sacerdócio, Monsenhor Hipólito faleceu, no Hospital Getulio Vargas, em Teresina cristanamente e com a mesma fé que norteou sua vida ilibada de sacerdote, no dia 17 de junho de 1943, quinta-feira, exatamente as treze e trinta horas, na oitava pentecostes, nos braços de seu sobrinho Dom Paulo Libório, ao lado de Dom Severino, Arcepisbo de Teresina, familiares e religiosos, entregou a alma ao Divino Mestre.
Está enterrado no cemitério São José, em Teresina. Foram suas ultimas palavras: “Senhor Bispo, quero morrer abraçado à cruz do meu Senhor”.
Hoje, depois de tantos anos, a lembrança de Monsenhor Hipólito e do que fez, continua viva na memória dos picoenses, lembrança essa que o tempo jamais apagará.
© 2024 - Academia de Letras da Região de Picos - ALERP