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Possidônio Nunes Queiroz nasceu em Oeiras, primeira capital do Piauí, na praça do Mercado, em 17 de maio de 1904.
Filho de Raimundo Nunes Queiroz, comerciante, proprietário e criador, e Francisca Soares de Queiroz, pessoa muito querida na cidade e profundamente religiosa. Em função de sua religiosidade, “Mãe Chiquinha não dispensava a presença dos membros da família nas primeiras atividades da igreja e segundo Possidônio, acordava de madrugada toda a família para assistir à missa aos domingos. Costumava Possidônio dizer que teve uma infância muito feliz pois, seus pais, na medida do possível procuravam satisfazer seus pequenos caprichos”.
Aos 4 anos de idade ouvia retretas com a banda de música de sua cidade natal e se deliciava com os tocadores ambulantes de “Pif”. Garotóide ainda, fabricou sua primeira flauta de bambu. A partir daí, passou a extrair os primeiros sons na flauta transversal, sob os ensinamentos do professor Jeremias, mestre da banda de música local, aprendendo escalas numa flauta antiga de cinco chaves. Conforme ele mesmo contava, não tinha hora de dormir e acordava de madrugada para estudar. Em pouco tempo estava tocando escalas em mais de uma oitava e melodias variadas. Naquele tempo , como ainda hoje no Piauí, não havia professor de técnica instrumental, de corda ou sopro, capaz de levar o aluno ao domínio completo do instrumento. Mesmo assim possidônio se saiu bem.
Aos 7 anos de idade iniciou os estudos básicos. Naquele tempo, em Oeiras, não havia escolas públicas. Assim sendo, foi na escola particular de Dona Quininha Campos, ainda sobre o regime da palmatória que Possidônio aprendeu as primeiras letras.
Com 11 anos de idade foi aluno de português do Dr. José Epifânio Carvalho, medico oeirense que posteriormente se radicou em Teresina. Ao ser criado, pelo Dr. João Ribeiro de Carvalho, o Externato Oeirense, logo Possidônio foi matriculado, e, como sempre foi um excelente aluno, passou a ser, então, um dedicado colaborador.
Era bastante religioso, característica herdada de dona Francisca Soares de Queiroz,que desde cedo lhe ensinara o caminho para uma vida melhor. Certamente, foi por isso que se dedicou tanto á igreja oeirense, que teve boa parte de suas composições em sua homenagem.
Aos dezoito anos, já havia contribuído bastante para o desenvolvimento da cultura local. Em 1922, comemorava-se o primeiro centenário da independência do Brasil. Oeiras celebrou o evento com uma grande festa, inclusive passeata. Teve presença marcante na sessão de inauguração do Cine-Teatro Oeiras, quando na ocasião foi oferecido um baile ao interventor do Estado, Dr. Leônidas de Castro Melo, e comitiva. Essa festa teve início com uma valsa de sua autoria, “Cecy Carmo”, de grande beleza. Outro momento de sua vida, sempre dedicada às grandes causas de sua cidade, foi quando participou da campanha pela permanência do nome de Oeiras. Tal campanha, talvez a maior de todos os tempos, visava a revogação do de um decreto do presidente Getúlio Vargas que proibia a existência de duas ou mais cidades com o mesmo nome na federação Brasileira. Possidônio Queiroz, na época primeiro secretario do antigo Rotary Club, desempenhou papel fundamental nessa luta, ao lado de outros membros da comissão tais como Rocha Neto, José Nogueira Tapety e Costa Machado. Vitorioso embate.
Mesmo tendo sido Oeiras, a cidade a cidade escolhida por ele para viver, houve uma época em que passou a residir em Teresina com a finalidade de prosseguir os seus estudos, porém, adoeceu e voltou para sua cidade natal, de onde nunca mais saiu, a não ser em rápidas e raras viagens a negocio ou em tratamento de saúde.
Desde muito cedo demonstrou sua vocação pela música. Meninote ainda, ficava horas ouvindo o ensaio das bandas da cidade. Com o instrumento de sua paixão - a flauta -passava seus melhores momentos.
Otacília Queiroz, a esposa, falecida em junho de 1994 com mais de 85 anos, foi a grande companheira com quem Possidônio poderia contar em qualquer circunstância. Magrinha, trabalhadora, cheia de alegria, era uma presença constante na vida de Possidônio.
O casal teve cinco filhos, sendo três homens: Raimundo Queiroz Neto, Gerardo Ribeiro de Queiroz e Francisco Ribeiro de Queiroz e duas mulheres: Maria Amélia de Queiroz Lima e Carmélia Ribeiro de Queiroz . Três deles herdaram do pai o amor pela música, mas não pela flauta, instrumento que ele adotou como sexto filho.
Possidônio estava sempre atento para o domínio de sua arte. Tanto é que estudava incansavelmente procurando obter um dedilhado perfeito, uma embocadura reta que lhe permitia arrancar de seu instrumento, sons doces e melodiosos. Não só dominava a música como também gostava de ler, o que não podia mais fazer nos seus últimos dias de vida por ter perdido a capacidade de uma visão perfeita. Mas, mesmo assim, enquanto existiu, a sua casa era abarrotada de livros, cadernos e anotações, aonde os estudiosos iam buscar informações precisas, completas e exaustivas.
De memória privilegiada, esse filho da velha capital do Piauí, acumulava conhecimentos tais e tantos que iam da botânica à astronomia, das ciências exatas às humanas.
O professor Possidônio foi um verdadeiro oráculo.
Eis aqui algumas de suas atividades ao longo de sua vida: Em 1948, foi fundado o Oeiras – Clube e o professor Possidônio, como sócio fundador, elaborou os estatutos e recebeu o título de sócio benemérito pelo dedicado trabalho; Em 1949, chega a Oeiras o primeiro bispo, Dom Francisco Expedito Lopes. Possidônio, convocado para organizar a solenidade de posse, dirigiu, nessa oportunidade, uma orquestra, fazendo executar musicas selecionadas; Em 25 de março de 1955, dirigiu uma orquestra de quinze músicos, por ocasião da sessão solene de homenagem a Dom Raimundo de Castro e Silva – 2° bispo de Oeiras – no dia de sua posse. Nessa solenidade foi tocada a valsa N° 9 de sua composição; Em fevereiro de 1971, ajudou na criação de “O Cometa”, jornal onde manteve a coluna “História de Oeiras”, quando se propôs a resgatar a memória da cidade; 6 de janeiro de 1972 – Fundação do Instituto Histórico de Oeiras; Em 24 de janeiro de 1973, fez parte das comissões que se reuniram no Palácio do Bispo para discutir, pesquisar e apontar ao Legislativo de Oeiras a data que deveria ser aprovada como dia de Oeiras – 26 de dezembro; Em 13 de agosto de 1976, Possidônio fez um discurso de saudação ao representante do Papa no Brasil, o Núncio Apostólico Dom Carmine Rocco. Foi um momento importante e de muita beleza em Oeiras; Um evento dos mais significativos da velha capital. A Catedral de Nossa Senhora da Vitória festejava em 15 de agosto de 1983 os seus 250 anos; A música “Hino dos 250 anos da Matriz” cantada na igreja e executada pela banda da Polícia Militar do Estado, é de autoria de Possidônio Queiroz; Em 28 de julho de 1987, pronunciou, no Cine – Teatro Oeiras, saudação ao líder Luis Carlos Prestes, que veio ao Piauí e deslocou-se até Oeiras a pedido da Academia Piauiense de Letras.
Dentro da música, suas principais contribuições, que, sem dúvida, servem para engrandecer a cultura oeirense, foram: “Valsa do Poeta”, em homenagem a Luis Lopes Sobrinho; “Valsa Serenata”, em homenagem a Eva Feitosa; “Pra Alice”, em homenagem a Alice Cassiano, filha de um grande amigo de Possidônio, Raimundo Cassiano; “Valsa da Sagração”, em contemplação ao bispo Dom Edilberto Dinkelborg; “Grande Valsa em Sib”; “Grande Valsa em Dó”, em homenagem aos 250 anos da matriz e aos 40 anos da diocese; “Lilásia”, alem de outras como “Melancolia”, “Numero 9 ou Pagã” e “Pensando em Ti”.
Foi extraordinário poeta, compositor, conhecedor da historia e da vida. Mas não teve o apoio que precisava para se destacar a nível nacional.
Era o berço da história de Oeiras e, conseqüentemente, da história do Piauí. Foi bastante procurado por estudantes, professores, advogados, enfim, por todos aqueles que queriam assimilar um pouco de seu conhecimento.
Oeiras fez o mestre Possidônio chorar, numa sessão solene no Cine – Teatro Oeiras, quando na ocasião, foram executadas algumas de suas valsas. Dizia o mestre: “Não sei o porquê das minhas valsas não serem tocadas totalmente”. Mas na noite do dia 3 de julho de 1995, este seu anseio foi realizado, e o mestre querido, cheio de emoção, banhou seu rosto com lágrimas que lhe brotaram do fundo do seu coração. Esta foi a última homenagem da terra mãe ao filho ilustre, uma vez que no dia 1° de janeiro de 1996, em sua própria casa, partiu para o mundo do além.
No dia 18 de maio de 2004, Dagoberto de Carvalho Júnior, da Academia Piauiense de Letras, prestou uma homenagem em comemoração ao centenário de nascimento Possidônio Nunes Queiroz no jornal Diário do Povo, centenário este, comemorado no dia 17 de maio, data de seu nascimento. Possidônio com certeza é uma pessoa digna de toda homenagem, principalmente da cidade de Oeiras, onde lutou em todos o aspectos para a melhoria da sua querida terra natal.
A primeira capital piauiense comemorou o centenário de Possidônio Queiroz em evento cultural realizado na primeira quinzena de Agosto de 2004, reunindo os mais expressivos nomes da literatura brasileira e piauiense, como Ariano Suassuna, Zózimo Tavares, etc.
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