ALERP
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DISCURSO DE POSSE
ASSENTO DA CADEIRA Nº 17 DA ALERP
ACADÊMICO ELEITO: JOSÉ ANTONIO DA LUZ (DEDÉ LUZ)
Efusivo “boa noite” a todos!
Antes de tudo, manifesto-me pesaroso pela morte de tantas pessoas, vítimas da Covid e de outros males, solidarizando-me, em especial, com o desaparecimento recente dos amigos pertencentes a este sodalício, a exemplo do Professor Inácio, a quem substituo, de Jurdan Gomes e Chico de Júlio, não esquecendo, dentre outros, do ativista cultural, Sávio Barão, do Vereador Carlos Luís, do Médico Oscar Eulálio, do Engenheiro Toinho de M. Fé, do agente Roberto e tantos outros, simplesmente abduzidos do nosso meio.
Respeitososamente, eis aqui o meu cumprimento aos que, honrosamente, participam de forma remota, direta ou indiretamente, desta solenidade, presidida pela Professora DEOLINDA MARQUES ( Presidente da ALERP - Academia de Letras da região de Picos ); a Vice-Presidente da entidade, Professora Raimunda Fontes, tesoureiros, secretários, Conselho Fiscal, autoridades políticas, civis e militares, ilustres acadêmicos, familiares e demais amigos da plateia que comungam, pelo “chat” este momento.
Sinto-me honrado pela calorosa inserção nesta Academia, como neoconfrade, ocupando a Cadeira nº 17, cujo Patrono se revela no memorável cidadão, PETRÔNIO PORTELA NUNES, político, jurista, piauiense, valenciano, deixando, pelo Piauí e pelo Brasil, inapagável rastro de boas obras. Nascido em Valença, aqui no Piauí, em 12 de outubro de 1925, filho de Eustáquio Portela Nunes ( que ocupara, por duas vezes, a Prefeitura daquele município) e de Maria de Deus Ferreira Nunes. Casando-se com Iracema Costa de Almendra Freitas, tiveram os filhos: Petrônio Portela Nunes Filho, Patrícia de Almendra Freitas Portela Nunes e Sônia de Almendra Freitas Portela Nunes. Dentre outros parentes políticos, Petrônio Portela é irmão de Lucídio Portela, que foi Governador do Piauí (1979-1983) e Elói Portela Nunes, Senador pelo mesmo estado; primo de Flavio Portela Marcílio, governador e Deputado Federal pelo Ceará (1958-1959), de Helvídio Nunes de Barros, filho de Picos, onde foi Prefeito, sendo, ainda, Helvídio Nunes, do Piauí, Deputado Estadual, Governador e Senador. Estudou Petrônio, inicialmente, em Valença, fazendo, depois, em Teresina, o Ginásio. Na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, formou-se em Direito (1951), prestando seus serviços jurídicos, em Teresina, à UDN. Foi Deputado Estadual piauiense (UDN)-1955, Prefeito de Teresina (1959), Governador do Piauí (1963), criando o Banco do Estado do Piauí, as Centrais Elétricas do Piauí, a Agespisa, hospitais e escolas. Dentre outros trabalhos, foi construtor da Barragem de Boa Esperança e fundador da ARENA, renunciando do Governo em 1966, para candidatar-se ao Senado, para o qual foi eleito, assumindo o mandato em 1967, ocupando, posteriormente, a Presidência do Senado em 1971. No Senado, foi Líder dos governos Médici e Geisel, sendo também, da Arena Presidente Nacional. Foi Petrônio pedra angular na instituição do Regime Democrático e extermínio do AI-5. Coordenou, politicamente, o Presidente João Figueiredo (1979), de quem era amigo pessoal, assumindo, em sua gestão, o Ministério da Justiça. Ali, Lutando pelo Pluripartidarismo e por eleições diretas, planejou a Abertura Política em toda a Federação. Devido à capacidade de articulação, era Petrônio Portela, já como Ministro, na época, apontado como o candidato mais forte à sucessão presidencial do governo militar de João Figueiredo, sendo, outrossim, deste uma estrela civil. Em 1980, sentindo-se mal em Laguna (SC), foi removido para Brasília, falecendo no dia 06 de janeiro daquele ano, com 54 anos, causando comoção nacional. Foi um democrata sincero, um político exemplar. Em sua homenagem, seu nome ficou incrustado em toda a Nação, por meio de bustos e estátuas, em auditórios, em fundações, em escolas, em ruas e avenidas. Reconhecendo a sua importância jurídico-política, o deputado Flávio Nogueira (PDT) apresentou, recentemente, no Congresso Nacional, Projeto de Lei, com parecer favorável, para inserir o nome do nosso Petrônio Portela no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, registro que fica no Panteão Nacional, em Brasília.
Na ALERP, a Cadeira de número 17, que tem como Patrono o eminente Petrônio Portela, teve, como primeiro ocupante, o saudoso Professor INÁCIO BALDOÍNO DE BARROS, meu antecessor, inegavelmente, prestador de relevantes trabalhos em prol desta Corporação, da Educação e de outros órgãos e instituições desta Cidade e deste Estado. Eis uma releitura sobre a história do Professor Inácio: nascimento: 10 de setembro de 1933; pai: José Baldoíno de Barros; mãe: Antônia de Moura Barros; cônjuge: Maria do Amparo de Araújo Barros; filhos: Inácio Barros Filho, Francisco Carlos de Araújo Barros, José Nicodemos de Araújo Barros e Eugênia Maria de Araújo Barros; criou os netos: Petrossyan Barros Aquino e Patrick Barros Aquino. Cursou o Primário na escola Coelho Rodrigues, em Picos; o Ginásio, em Teresina, no Colégio São Francisco de Sales, retornando a Picos, onde fez o Segundo Grau, com Especialização Técnica em Contabilidade. Fez o Curso Cades, na Inspetoria Regional de Teresina, onde realizou Exame na Faculdade de Ciências Socias; Licenciou-se em Pedagogia com especialização em Administração Escolar na UFPI, graduando-se em 1992. Realizou, ainda, Cursos de Treinamento e Atualização do Magistério, de Reciclagem em História e Geografia, de Treinamento para Implantação e Atualização de Diretorias Regionais, participando, outrossim, do III Encontro Estadual de Supervisores Pedagógicos em 1981. Trabalhou nas Agências da Empresa dos Correios e Telégrafos. Foi Diretor, Superintendente Educacional, Chefe de Seção de Ensino da 9ª D.R.E. e membro do Conselho Estadual de Educação, dirigindo a UESP, Campus de Picos, de 1993 a 1994. Exerceu, na política, em Picos, o mandato de Vereador por quatro vezes, chegando a Presidir a Câmara Municipal. Publicou o livro “Meus Cantares” e outros inéditos, ocupando, na ALERP (Academia de Letras da Região de Picos), a Cadeira de número 17, que tem como Patrono o jurista e político Petrônio Portela Nunes. Antes de sua morte, no ano de 2019, o Professor Inácio foi homenageado pela Câmara Municipal e pelo SALIVAG (Salão de Livros do Vale do Guaribas ), em Picos. Ainda, exaltando-o em vida, no ano de 2019, eu, este neoacadêmico que vos fala, seu ex-aluno, agraciei-o com o poema “RENASCE UM INÁCIO”, a ele dedicado, que, em momento oportuno, foi reservado para recitação pela confreira e psicóloga, Graça Moura, nesta solenidade.
Gratidão a todos pelo apoio nesta empreitada, em especial a Cleidiane, esposa; aos filhos, Tamires, Álvaro e Álisson; aos manos Vilani Luz, Francisco Antônio e Irene Luz; às afilhadas, Ana Vitória e Alice; aos sobrinhos, a exemplo do cantor Marcelo Luz, que, sem dúvida, fez-se grande intérprete de minhas canções; aos demais parentes, em especial a Teotônio Luz e Hosana Araújo; enfim, aos professores, alunos, amigos e admiradores, pertencentes ou não a esta Confraria, e que vivem no meu coração, o que me tornaria impossível relacioná-los, no momento, pelo risco de esquecimento ou extrapolação temporal. A todos, enfim, o meu agradecimento por me valorizarem como cidadão, professor, poeta, escritor, compositor, amigo e, também, filho do nosso Deus maior. Outrossim, especial gratidão ao político e acadêmico Francisco das Chagas, o Chaguinha, que ora me apresenta a esta Confraria, à simpática cerimonialista e acadêmica, Fátima Miranda, aos acadêmicos Vilebaldo, Graça Moura e Sóllon Reis, dentre outros que manifestaram sua importância para a realização desta cerimônia.
Este Sodalício costuma acolher seus membros pelo preenchimento dos requisitos necessários para o fim que lhes cabe. Por conseguinte, aceito que sou, farei o possível para tal, embora não me seja sensato negar o alto nível dos confrades, a exemplo do ocupante antecessor da Cadeira 17, o imortal Professor Inácio, prócer do Magistério e devoto servidor desta casa. Resta-me, agora, fazer jus à cátedra em pauta, já que a análise crítica do quórum considerou, dentre os valores inequívocos dos concorrentes, o meu acervo literário como compatível aos pressupostos desta agremiação, organismo que alavanca o desenvolvimento cultural de nossa região, do nosso Estado e, por que não dizer, do nosso País. Em contrapartida, confesso sentir-me entristecido por saber que meus amados pais, já falecidos, Antônio e Francisca, não podem partilhar este momento, acolhendo-me em seu colo, já que foram eles os maiores acadêmicos de minha formação.
Por outro lado, não me considero “sui generis” em relação aos concorrentes que, diuturnamente, também são ativistas culturais, sendo o assento de cada um, neste Ateneu, uma questão de tempo e ocasião. Para esta eleição, um, dentre nós, tinha de ser escolhido. Indiferentemente, sintam-se, portanto, copartícipes da cruzada literária que devemos instituir neste pedaço de chão brasileiro, tão carente de políticas públicas norteadoras da evolução artístico-cultural. Além disso, para ajudarmos esta Associação, não se faz, tão somente, necessária uma eleição, já que amigos (como Marli, Ozildo e outros) aqui têm destacada atuação, sem, no entanto, apesar do insistente convite, por pretensão própria, nunca terem oficializado a sua inserção. Quanto a mim, também não me bastaria ser acadêmico para gostar de ler, escrever e participar deste elo; porém, não resistindo, em contrapartida, à insistência de amigos, admiradores e parentes, aqui estou para angariar mais experiências. Sem leitores, por outro lado, não haveria razão para a minha poética. Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós? Nada mais do que alvos da poesia, que se servem de reflexos, ações, convivências e valores humanos para eclosão da vida, como bem expressa o poema de minha autoria “Quem é você?”.
Senhores, as palavras, em mim, desencadeiam variadas emoções, tendo sabores e texturas. Apaixonadas, coloridas, grandes, pequenas, tristes, alegres, mornas, frias, serenas, educadas, atrevidas, encantam-me nas formas, sentidos e sons. Umas me sussurram ou cochicham; outras gritam desesperadas; contudo, solucionam ou causam desgraças em nossas vidas, como bem expressa o poema “Ai, palavras”, também, por mim produzido.
Todos, enfim, podem fazer literatura, já que esta advém da própria vida, através da linguagem verbal ou não verbalizada. E a vida, como diz Manuel Bandeira, poeta revolucionário modernista, “vem da boca e do coração do povo, porque este é que fala gostoso o Português do Brasil”. Independentemente da variante linguística que empregamos para cada situação, sejamos movidos, cada vez mais, por desejos, emoções, fantasias e intuições, fazendo desta Arcádia um antro de escritores revolucionários, produzindo também emoção poética em textos multissemióticos, tão presentes nas redes sociais. A arte pode emergir de várias possibilidades, através de sons, imagens, cores, desenhos, gráficos, “links” e outros códigos multimodais, presentes no seu “smartfone”, no seu “tablet”, no seu computador, em seu “el-reads” ou instrumentos do gênero. Vamos popularizar a leitura e a escrita, admitindo que a poesia existe em tudo que se faz com maestria, com o coração e com amor, sendo o papel em branco apenas um dos varais por onde ela se estende. Ainda pode estar a arte poética nas cores das paredes de sua casa, nas suas roupas infestadas de inscrições, no “eu te amo”, nos gritos de gol, nos filmes preferidos, no sorriso dos palhaços, no sabor das píteças preferidas, enfim em todos os ingredientes da vida, como também o teço em certo texto poético de minha crestomatia.
Ao mencionar, por aí, a eleição em evidência, perguntavam-me alguns se já tinha lançado algum livro. Respondi-lhes que sim, além de deter outros projetos inéditos. Contudo, ressalto que a minha obra-prima – a maior de todas – é a missão de educar o povo, lançada, dia e noite, nas instituições escolares deste chão de meu Deus. Livro nenhum suplantaria esta missão, ao constatar que, no espaço de três décadas, aproximadamente, quarenta por cento das pessoas de Picos e adjacências, portadoras de diploma superior, foram meus discípulos escolares, acumulando aprendizagens que os levaram a vencer na vida em meio a níveis altos da concorrência. Em suma, além de já ter obra literária apresentada nesta Casa, e ter oficializado outras em parcerias, e dispor de tantas inéditas, já lancei, continuo lançando e lançarei, como obreiro da educação, produções do ensino-aprendizagem, reais e imortais, que perdurarão, perpetuamente, na vida de nosso povo.
Por conseguinte, é evidente, amigos, a importância desta e de outras instituições culturais que, apesar de vítimas do descaso, ainda sobrevivem para o nosso bem. Contudo, mediante inglórias, Picos vem se autoconfirmando, hoje, como berço esplêndido de culturas. Pasmem! No meu florescer escolar, tive oportunidade de apreciar, nesta cidade, concurso literário organizado pelo Armazém Paraíba. No palco – a carroçaria de um caminhão – subiam os concorrentes, representando escolas da época. Ao declamarem seus textos, eram, na maioria, vaiados ou taxados de néscios. Por quê? Ora, na época, além de serem os poetas-mirins pouco valorizados, eram, ainda, vítimas de preconceitos outros profissionais, a exemplo de dançarinos, cabeleireiros, massagistas e cidadãos afins, como cantores iniciantes, por muitos, na época, julgados como indivíduos que nada queriam com a vida. Hodiernamente, graças a Deus, com a evolução dos conceitos, das congregações e outros institutos de educação e cultura, muitos de nossos jovens são enaltecidos por escreverem algum livro, ou gravarem seu primeiro álbum musical, quer seja nesta Academia, no Salivag, ou em outras organizações. Esse preconceito não existe mais sobre eles que, hoje, são vultos de destaque nos bastidores midiáticos. É certo que o desenvolvimento artístico-cultural local ainda não conquistou o patamar desejado; contudo, já se manifesta como algo que faz jus à condição de nossa plêiade artística, influenciada por acadêmicos, professores, associações, grupos, jovens políticos e, em potencial, pelos leitores que tanto valorizam a si, a educação e a cultura . A ALERP, como apoiadora dessas causas, deve, pois, junto a outros órgãos, continuar escalando tais degraus do acervo cultural que, anonimamente, instala-se em nossas comunidades, nos mais variados gêneros e modalidades, desenvolvendo oficinas e projetos bastantes, para a projeção desses valores. Como guardiães da cultura, continuemos, pois, na busca de acadêmicos-mirins, através de palestras, visitação às escolas, concursos redacionais, festivais de calouros, buscando, por outro lado, apoio para reformas em nossa Academia, melhorando ainda mais o seu acervo cultural e o seu espaço físico, com ênfase à parte frontal da Casa. Além disso, Picos já merece um teatro municipal para dar espaço à nossa arte cênica e coreográfica. Não é só dever deste Ateneu, mas também dos portais, da televisão, dos rádios, dos jornais e de outras plataformas comunicativas preocupar-se com a divulgação e o apoio aos valores artístico-culturais locais. Todos imaginamos tais melhorias; contudo, achamo-las impossíveis, diante da negligência dos poderes público, municipal, estadual e federal. Mas, com fé, o homem pode revirar montanhas. Divulgar as transformações não as tornam realidade; no entanto, é melhor que calar-se diante delas.
Devemos ainda, como acadêmicos ou não, entender e fazer entender que a cultura não se manifesta tão somente através das palavras. A literatura está mudando o seu rosto através de textos não verbais ou híbridos com o advento da fase áurea da “internet”. Como a arte é vida, também se transforma. Todas as linguagens, códigos e tecnologias são válidos artisticamente, desde que produzidos pelo homem para reproduzir o próprio homem. Quanto à arte literária verbalizada, devemos expô-la, arraigando-a, com o nosso esforço, ao gotejamento de regras e padrões normativos e artificiais, quando necessário, diante das situações formais e neutras. De acordo com as circunstâncias temporal, espacial e cultural dos destinatários, contudo, podemos dar vida a outras variantes linguísticas populares, desde que as usemos como registros representativos do eu-lírico ou dos discursos representativos do nível cultural das personagens que criamos. Assim, nenhuma variável linguística deve ser melhor ou pior que as outras. O erro na língua só existe no caso da inadequação de seu emprego em relação ao nível cultural dos falantes, ou no caso de desvios ortográficos. Por exemplo: Um poema, em que o eu-lírico use uma linguagem popular regionalizada, sem os purismos gramaticais, pode sugerir sentimento e emoção poéticos, tanto quanto um soneto metrificado a rigor, sob a égide dos regulamentos formais da língua. O sentimento poético não reside tão somente no homem letrado, mas também pode haver poesia na fala natural dos sertanejos, desprovidos de educação escolar, tipos tão presentes na vida de todos nós.
Somos sabedores de que toda língua se transforma, quando viva, através de neologismos, estrangeirismos e outras formas artificiais, advindas da influência de outras culturas. Mas, no papel de acadêmicos, recomendemos, a nós e aos outros, não usar abusivamente o estrangeirismo inglês, pois esta nossa submissão excessiva à língua americana pode-nos levar a ser vítimas de uma dominação político-cultural posterior . Às vezes, somos uns maria-vai-com-as-outras, até mesmo na pia batismal, quando americanizamos o registro de nossos filhos, ou o fazemos com reformas rebuscadas, que fogem da estrutura de uma e de outra língua. Não já não nos basta o impatriótico modismo linguístico imposto no esporte, na economia, na gastronomia e em outros ramos?
Quanto a produções literárias, apraz-nos receber críticas, sugestões e elogios, desde que nos façam crescer cada vez mais. Contudo, secundarizo ironias advindas da não linearidade ao gosto de qualquer leitor, já que aquilo que produzo retrata o meu rosto e o meu pensamento. Em vista disso, já nos reza Leandro Karnal: “Não tenhamos gurus, porque gurus implicam autoridade; sejamos, pois, agentes próprios de nossas convicções, provocando luzes, críticas e opiniões, aceitando também a felicidade dos outros, quando estes não nos entendem”
Às vezes, sou desestimulado para o ofício literário, por meio de indagações como: “Ah, isso não lhe traz retorno financeiro!”, “Bom... mas se você gosta, né!...”,“ Só vai viver dessas coisa agora?...” “ Cadê seus amigos, já lhe compraram algum livro?”, e outros negativismos. Mas nada disso me ilude, pois nunca fui capitalista excessivo e nem “sui gêneris”: simplesmente registro sentimentos, sensações e pontos de vista sobre mim, o outrem, o mundo e a vida. Não gosto só de ouvir, pois quem ouve, ouve o que quer. A pesquisa me preenche e, neste sentido, faço-o com naturalidade, de forma simples e sociável. Nesta Associação, prefiro a ingenuidade à sagacidade; a timidez à ilimitada liberdade. Não pretendo ser preconceituoso, para não dá vazão a limitações. Numa agremiação qualquer, deve-se trabalhar a união com comunicação, porque, do contrário, chama-se, simplesmente, reunião ou aglomeração de pessoas. Quero preservar comportamentos honestos, porque, segundo Étienne de La Boétie, “só com honestidade podemos conquistar afetos, evitando ofensas que só existem quando não se conhece ao outrem”. Prefiramos a ética no trabalho, para preservarmos amigos, e não cúmplices. Evitemos, neste espaço, engolir ofensas e venenos que, por acaso, ofereçam-nos. Vamos processar leituras, estimulando-as ao outros. Se lemos, somos menos solitários. Sem a leitura e a escrita, a vida nos é mais dura e severa, mais vazia e entristecida. Aproveitemos, entretanto, o espaço digitalizado da arte, sem menosprezar os meios físicos, visto que “e-books” e hipertextos são automáticos e variados, numa verdadeira poética de “links”, havendo interatividade direta entre autor e leitor, o que nos traz diminuição de custos gráficos, fácil alteração e maior espacialização, sem nos dobrar ao crivo de julgamentos clientelistas da política editorial.
Espero, então, com o ingresso neste Sodalício, conhecer, com maior profundeza, a natureza humana. Personalidades do quilate dos senhores, como veteranos acadêmicos, só me darão arraigada experiência para o campo literário e para outras atividades. Reitero, enfim, intensa gratidão por inserir-me nesta sociedade literária. Muito me anima a acolhida deste público-leitor, assentado nas plataformas digitais, amigos da vida e do mundo, razão maior do meu ofício. Sem desprezo às formas democráticas de comunicação, desde que adequadas à sua realização, lutemos, outrossim, principalmente na escrita, pela unidade linguística objetiva, o que se nos apresenta como dever cívico, na dura e impossível missão de padronizar o idioma, embora as facilidades hodiernas nos iludam, enfraquecendo-nos como “homo sapiens” que somos. Corroboremos com a maiêutica socrática, “só sei que nada sei”, sabendo que as dificuldades também nos orientam, fortalecendo-nos e ensinando-nos.
Espero, afinal, junto aos próceres acadêmicos, terminar a futura fase de ancião, convivendo, cordialmente, com todos, mesmo trôpego e falível, fazendo jus aos atos que me forem conclusivos. Apesar de a vida oferecer-me glórias e inglórias, tropeços e vitórias, caídas e recaídas, peço, contudo, ao Paráclito-Mor, não merecer dos amigos, dos familiares, da sociedade e do mundo o inferno das indiferenças e falsídias. Sou grato à vida por achar-me fraco e imperfeito, o que justifica o galgar dos degraus da humildade, adquirindo benevolência, compreensão, virtude e sabedoria, para enfrentar o resto da vida que me falta. Estou aqui, afinal, por Deus, pelos familiares, pelos amigos e, principalmente, pelos impulsos do coração, dando-me possibilidades de amar e de ser amado. Queria assim morrer, permanecendo-me aberto às dimensões da vida, no fiel cumprimento dos deveres e obrigações, valorizando o pulsar da minha existência em Deus, em mim, na família, nos amigos e na própria natureza, que, até agora, têm me acolhido com naturalidade.
Grande beijo no coração de todos!
( Dedé Luz, neoconfrade )
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